Igreja de Santa Luzia, entre o Morro do Castelo e a Praia de Santa Luzia

Já houve uma época em que a Igreja de Santa Luzia ficava muito próxima das fraldas do morro do Castelo e da praia de Santa Luzia. E não faz muito tempo isso, tanto que há fotos que registram essa curiosidade. Lembro que eu era criança e, andando pela rua Santa Luzia, passava por sedes de clubes náuticos que ali guardavam seus barcos. A distância entre os clubes e o mar era pequena, daí a sua localização privilegiada.

Talvez a  Igreja de Santa Luzia seja o grande marco da fundação do Rio de Janeiro que sobrevive até os nossos dias. As obras de restauração, que aconteceram há pouco mais de 10 anos, desvendaram muitos segredos sendo que alguns deles ainda não foram divulgados.

A história da Igreja de Santa Luzia se confunde com a história da Baía de Guanabara. Há muitas versões sobre a época da sua construção. É certo que ela não existia quando a cidade foi fundada, pois não há qualquer menção sobre ela nos antigos registros da cidade. Estácio de Sá fundou a cidade no Morro Cara de Cão no meio de uma guerra. Estácio de Sá enfrentou os franceses com um pequeno exército, composto de 300 europeus e 120 índios. Depois de dois anos de lutas incessantes, Estácio venceu. Morreu atingido por uma flechada no rosto. Segundo o historiador Milton Teixeira, foi uma morte bem carioca. “Morreu atingido por uma flecha perdida numa briga pela posse de um morro, o Morro da Glória”.

Em seguida a cidade se instalou no Morro do Castelo, antigo “Descanso de São Januário”,  levada para lá por Mem de Sá. Em 1592 a primeira Igreja foi construída. O templo primitivo era algo muito pobre, quase um barracão com uma porta central. Era apontada para o Hospital da Santa Casa, fundado em 1582, e não para o mar, como é hoje, A entrada se fazia por uma porta lateral do hospital, onde se acompanhava uma trilha no morro, que levava até o templo.

Não sabemos ao certo onde era o local exato da antiga Igreja, mas dizem que seria o mesmo local onde está a atual. A diferença entre elas estaria no ângulo da construção, com a nova igreja apontando para o mar.

Com a demolição do Morro do Castelo, arrasado em 1922, a terra foi usada para aterrar a área adjacente até o mar,  criando a Esplanada do Castelo.

Hoje, para quem passa pela Avenida Presidente Antônio Carlos, ao lado da Igreja, é difícil imaginar que, há  100 anos, o mesmo percurso teria de ser feito a nado para em seguida escalar a vertente de um morro.

No vídeo a seguir o historiador Milton Teixeira nos fala sobre a história da Igreja e das obras de restauração. Embora imagem e som não estejam perfeitos, a informação é o mais importante. Espero que gostem.

Oficina de História que inaugurou a rede social da restauração da igreja de Santa Luzia do Rio de Janeiro. Ministrada pelo Professor Milton Teixeira na nave principal da igreja e transmitida ao vivo pela internet.