História: Como morreram os índios Tamoios que viviam na zona sul do Rio de Janeiro

Estava conversando com uma amiga sobre assuntos gerais, tais como pandemia, vírus, vacinas, e nos lembramos que alguém comentou recentemente sobre a possibilidade da volta da varíola, terrível doença, mas já erradicada. Será possível? Nos tempos atuais tudo é possível.

Isso me fez lembrar que o Rio já foi palco de uma grande chacina patrocinada por um governador. Calma! Foi por volta de 1575. Contei essa história no antigo Alma Carioca. Vale a pena conhecer.

Vamos lá:

Havia uma lei que isentava de impostos quem erguesse engenhos de cana no Brasil. Isto porque, naquela época, o açúcar constituía mercadoria preciosa, servindo inclusive para ativar o comércio internacional. Os engenhos precisavam de muitas terras e essas eram, na grande maioria, ocupadas pelos índios.

Entre 1575 e 1578 o Rio de Janeiro foi governado por Antônio Salema, um jurista, formado em Coimbra, que tinha como principal característica, odiar os índios Tamoios. Salema pretendia instalar um engenho de cana nas margens da atual Lagoa Rodrigo de Freitas. Como estas terras eram ocupadas pelos Tamoios, Salema usou um método cruel para exterminá-los: espalhou pelas margens, roupas que haviam sido usadas por doentes de varíola. Os índios decidiram vesti-las e se contaminaram. Acabaram mortos.

Assim, a Lagoa Piraguá (água parada) ou Sacopenapan (caminho dos socós) foi cenário do grande genocídio. O Engenho D’El Rei foi construído onde hoje funciona o Centro de Recepção aos Visitantes do Jardim Botânico.

Além de Lagoa Piraguá (água parada) ou Sacopenapan (caminho dos socós), chamaram-na também de Lagoa de Amorim Soares. O vereador Amorim Soares foi expulso da cidade em 1609.

Ele havia comprado o Engenho D’El Rei do Governador Salema. Com a expulsão, tratou de vender as terras para seu genro, Sebastião Fagundes Varela, que comprou e invadiu os terrenos vizinhos e onze anos depois já era dono de todas as terras da região, até o Leblon.

Mais tarde, a viuva de Varela, Petronilha, de 50 anos, casou-se com Rodrigo de Freitas, de apenas 18 anos, dando seu nome à lagoa. Rodrigo de Freitas morreu em Portugal em 12 de julho de 1748. Hoje, passados 250 anos, continuamos a chamá-la de Rodrigo de Freitas, mas pouca gente conhece essa história que acabamos de contar.

Sobre Antônio Salema e os índios, uma história precisa ser contada e lembrada:

A chamada “Guerra de Cabo Frio” aconteceu em 1575. O Governador do Rio de Janeiro, Antonio Salema, reuniu poderoso exército com gente da Guanabara, São Vicente e Espírito Santo, apoiado por grande tropa tupiniquim catequizada. Os oficiais e soldados seguiram por terra e mar, tendo como objetivo liquidar o último bastião da “Confederação dos Tamoios” e acabar com o domínio francês que já durava 20 anos em Cabo Frio.

Após o cerco e a rendição da fortaleza franco-tamoia, dois franceses, um inglês e o pajé tupinambá foram enforcados; 500 guerreiros foram assassinados a sangue frio e aproximadamente 1500 índios foram escravizados. As tropas vencedoras ainda entraram pelo sertão, queimaram aldeias, mataram mais de 10.000 índios e aprisionaram outros tantos. Os sobreviventes refugiaram-se na Serra do Mar e Cabo Frio.

A baixada litorânea, de Macaé até Saquarema, devido à carnificina levada a efeito contra os índios, verdadeiros donos das terras, ficou transformada em um verdadeiro deserto humano, e somente movimentada com a passagem esporádica dos Goytacazes que incursionavam por estas terras à procura da caça e pesca.

Nossa história não é um exemplo, infelizmente.